domingo, 15 de fevereiro de 2009

Auto-Representação \\ O Duplo


Com este exercício pretende-se explorar a relação entre sujeito, espelho e fotografia. O cenário escolhido foi o idealizado por Jean Clair, citado por Medeiros, no qual um homem comum, que, depois de uma noite agitada, acorda de manhã e não se “reconhece” de manhã, e que afirma que está com cara de desterrado. Clair refere que a imagem no espelho é o rosto do demónio, o rosto da Morte do sujeito que deixa de se reconhecer, embora temporariamente, perante a sua imagem. É o que, de alguma forma, acontece em “O retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde, onde o duplo retratado incorpora toda a degradação proveniente do seu estilo de vida amoral e do próprio envelhecimento. Aqui, o sujeito que se olha ao espelho para se certificar que está pronto para sair de casa, reflecte-se ainda de pijama. Este paradoxo é usado para demonstrar o lapso de tempo que existe entre a representação e a percepção desta, que é precisamente o intervalo entre o especular e o real que vai permitir a inclusão mágica, de si mesmo, no olhar do Outro. Neste caso, é usada a linguagem de cor utilizada no cinema, que passa o reflexo especular para a dimensão de cor do real de modo a reforçar a ideia de incerteza do Eu e de impossibilidade de coincidência entre sujeito e duplo. Já a presença da fotografia do sujeito em criança remete-nos para a dualidade presente em toda a imagem fotográfica, enquanto “espelho com memória”, que nos promete eternidade ao mesmo tempo que nos confronta com o nosso envelhecimento.

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