domingo, 15 de fevereiro de 2009

Auto-Representação \\ O Duplo


Com este exercício pretende-se explorar a relação entre sujeito, espelho e fotografia. O cenário escolhido foi o idealizado por Jean Clair, citado por Medeiros, no qual um homem comum, que, depois de uma noite agitada, acorda de manhã e não se “reconhece” de manhã, e que afirma que está com cara de desterrado. Clair refere que a imagem no espelho é o rosto do demónio, o rosto da Morte do sujeito que deixa de se reconhecer, embora temporariamente, perante a sua imagem. É o que, de alguma forma, acontece em “O retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde, onde o duplo retratado incorpora toda a degradação proveniente do seu estilo de vida amoral e do próprio envelhecimento. Aqui, o sujeito que se olha ao espelho para se certificar que está pronto para sair de casa, reflecte-se ainda de pijama. Este paradoxo é usado para demonstrar o lapso de tempo que existe entre a representação e a percepção desta, que é precisamente o intervalo entre o especular e o real que vai permitir a inclusão mágica, de si mesmo, no olhar do Outro. Neste caso, é usada a linguagem de cor utilizada no cinema, que passa o reflexo especular para a dimensão de cor do real de modo a reforçar a ideia de incerteza do Eu e de impossibilidade de coincidência entre sujeito e duplo. Já a presença da fotografia do sujeito em criança remete-nos para a dualidade presente em toda a imagem fotográfica, enquanto “espelho com memória”, que nos promete eternidade ao mesmo tempo que nos confronta com o nosso envelhecimento.

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

George Eastman House

"George Eastman House may have only one address, but it is many destinations. Welcome to all of them! I hope you will use this website to investigate the Museum’s many offerings. As the world’s preeminent museum of photography, Eastman House cares for and interprets hundreds of thousands of photographs encompassing the full history of this medium. We are constantly working to increase online accessibility to our collections through this website"

Auto-Retrato \\ Sem Título


O auto-retrato concebido para ilustrar este exercício parte do deslocamento para a criação de uma sobreposição sequencial de um número indefinido de momentos que representam individualmente uma camada de identidade. A sequência diferencial de posições infinitesimamente separadas no espaço e no tempo, desmultiplica a forma até ao limite da não-identidade, gerando um rasto que regista a passagem do corpo, como se tratasse de um gráfico que descreve o deslocamento em função do tempo decorrido. A não-identidade é gerada de um modo próximo ao conseguido por Warhol nos retratos de Elvis Presley e Marilyn Monroe, por repetição exaustiva dos mesmos. No entanto, o deslocamento em ordem ao tempo cria uma deformação mais acentuada, proveniente também da lógica vertical de leitura, implícita neste exercício, o que lhe confere uma estrutura poética.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Retrato \\ Memento Mori 03'

André Santos, 2003/+∞
Raio-x, 10x15

Retrato \\ Memento Mori 02'


Maria Leonor Santos, 2006/+∞
Raio-x, 10x15

Retrato \\ Memento Mori 01'

Tiago Santos, 2001/+∞
Raio-x, 10x15

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Retrato \\ Memento Mori


"Toute image photographique est l’image d’un défunt,
la photographie d’un lieu, celle d’un lieu du crime,
la photographie est la mort sans phrase,
sans signification et ritual, sans promesse d’imortalité"

Roland Barthes

Ao contrário das radiações do espectro visível, os Raios-X trespassam os corpos, no Espaço e no Tempo, deixando antever o que de mais íntimo existe no seu âmago.

A faculdade que estas radiações possuem de atravessar o Espaço é amplamente explorada e faz parte do do nosso senso comum e cultura popular. No entanto, a propriedade de trespassar o Tempo, revela-nos algo muito mais inquietante - a Morte. Isto porque este processo fotográfico encerra em si uma dualidade temporal, por um lado remete-nos para o Passado, herdando o efeito de "suspensão do tempo" inerente à fotografia que utiliza radiações do espectro visível, por outro lado, transporta-nos para o Futuro, revelando-nos a nossa derradeira aparência. Neste sentido, temos o "Isto foi" que Barthes nos enuncia, mas também o "Isto será". Sob este ponto de vista podemos dizer a radiografia é uma imagem que fossiliza à nascença e que repete mecanicamente até ao infinito, o que aconteceu e o que acontecerá.
Poderemos mesmo dizer que é o processo fotográfico que permite uma representação mais fiel de um indivíduo, dado que captura uma fracção de Tempo potencialmente infinita, ao mesmo tempo que o reduz ao seu denominador comum - a Morte.